Projeto de universidade gaúcha transforma cinzas da casca de arroz queimada em vidro 

Uma das alternativas de aplicação da nova tecnologia de microesferas de vidro é a utilização na sinalização de estradas 

Segundo o professor Clovis Souza, há disponível para os agricultores de aveia branca granífera apenas um herbicida registrado para manejo das plantas daninhas, e o trabalho de pesquisa apresentou "duas novas moléculas que estão sendo testadas - Foto: Udes

Uma nova forma de produzir vidro, a partir da queima da casca do arroz, foi descoberta por pesquisadores da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no campus de Alegrete, no Rio Grande do Sul. Nesta nova aplicação da casca do arroz, comumente tratada como "lixo" agrícola, a areia, um dos principais ingredientes na fabricação do vidro, é substituída pela cinza proveniente da queima da casca do arroz. 

 

A pesquisa vem sendo desenvolvida por alunos do programa de pós-graduação em Engenharia do campus de Alegrete da Unipampa, coordenados pelos pesquisadores Jacson Weber de Menezes, doutor em Engenharia, e Chiara Valsecchi, doutora em Química. 

 

O projeto, de tão inovador, foi selecionado em 2021 junto de outras 9 pesquisas para fazer parte de um programa que une Brasil e a Suíça para cientistas empreendedores, no qual um dos cientistas que participou do trabalho irá receber treinamentos relacionados a marketing, obtenção de recursos para pesquisa, entre outros assuntos. A pesquisadora Chiara foi destacada para receber os treinamentos, parte no Rio de Janeiro e parte na Suíça. 

 

No Rio Grande do Sul, maior estado produtor de arroz do país, a casca de arroz normalmente é descartada ou utilizada para queima e conversão em energia, por exemplo, ficando as cinzas sem destinação adequada. Em Alegrete, um dos principais municípios que cultivam o cereal no estado, a alta oferta da casca de arroz chamou a atenção dos pesquisadores para tentarem descobrir novas alternativas de uso das cinzas provenientes da queima deste material.  

 

Geralmente, a casca do arroz, obtida após o beneficiamento do cereal, é descartada ou queimada para gerar energia elétrica, sobrando as cinzas do material como resíduo final.  

Os pesquisadores identificaram que as cinzas resultantes da queima da casca do arroz eram ricas em sílica, material muito utilizado na produção desde pneus e borrachas, tintas e também vidro. De maneira mais comum, o vidro é fabricado a partir da areia rica neste insumo, e os cientistas da Unipampa cogitaram então testar a fabricação de vidro tendo como base a sílica da casca de arroz queimada.  

 

Além de conseguirem produzir de fato microesferas de vidro, outra descoberta obtida durante as etapas da pesquisa foram os vários processos químicos para retirar o efeito colorido do vidro produzido a partir da casca de arroz até chegar em uma versão transparente do material.  

 

Segundo os coordenadores do projeto, a fabricação das microesferas de vidro feitas à base das cinzas da casca de arroz queimada, resultando em um produto transparente, é possível ser reproduzida pela indústria. 

 

Aplicabilidade 

 

De acordo com os resultados da pesquisa, uma das aplicações possíveis para as microesferas de vidro feitas com as cinzas da casca de arroz é na sinalização de ruas e estradas. Um dos exemplos seria a inserção destas microesferas nas tintas utilizadas para a sinalização do solo. Esta tinta ganharia uma característica de reflexão da luz quando irradiada pelos faróis dos veículos.  

Mais do que isso, pensando em objetos e materiais diversos que tenham vidro como componentes como, por exemplo, janelas, garrafas, entre outros, é possível pensar na utilização do vidro da casca de arroz. 

 

Meio ambiente 

 

Para além da inovação que pode trazer novos recursos para a indústria, a pesquisa realizada por cientistas da Unipampa também se liga com o conceito da sustentabilidade. Isso porque a utilização da casca do arroz, um resíduo que é mal descartado ou queimado para a geração de energia, teria uma destinação melhor.  

 

O material utilizado nas pesquisas da universidade, inclusive, são doados por agroindústrias locais, uma vez que Alegrete é um dos polos gaúchos de produção de arroz.  

 

Produção de arroz no Rio Grande do Sul 

 

De acordo com reporte de setembro de 2021 do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), na safra 2020/21, as produtividades de arroz irrigado e de soja em rotação foram recordes no Estado. A produtividade média de arroz irrigado foi de 9.010 quilos por hectare-1, a maior da história, segundo o órgão. A produtividade cresceu apesar da área semeada (945.971 hectares) ser a menor no comparativo com as últimas 11 safras do cereal. Já a produção total foi a quarta maior em 11 safras, com 8.523.429 toneladas.